quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Caridade

O que é a caridade?
Muitos responderiam, fazer algo sem esperar nada em troca.
O catolicismo afirma que caridade é “amar o próximo como a si mesmo”
O espiritismo fala sobre a caridade no Livro dos Espíritos de Allan Kardec:
"886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas."
O judaísmo diz "Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti. Essa é toda a Torá, o resto é a comentário; agora ide e aprendei."
O islamismo possui cinco pilares, um deles é o da “contribuição de purificação (Zakat)” que diz que todos os muçulmanos devem doar certo percentual de seus ganhos anuais para os pobres ou outros beneficiários definidos pelo Alcorão.
Caso analisarmos a fundo, em quase todas as religiões encontramos referências à caridade e ao respeito ao próximo. A caridade tem a definição mais simples e ampla no catolicismo “amar o próximo como a si mesmo”, nisso se incluí o respeito ao próximo.

Mas eu ainda não entendi, o que é a caridade?
Hoje em dia infelizmente a caridade virou sinônimo de doar dinheiro, doar pro criança esperança, comprar um Big Mac no McDia Feliz, ou doar roupas que você não usa mais na campanha do agasalho.

Ah! Então você ta dizendo que doar as coisas não é caridade?
Não! Isso é caridade também! Mas o que adianta você fazer isso tudo se você ao mesmo tempo é uma pessoa arrogante, não tem paciência com as pessoas, só pensa em você acima de todas as coisas? O que adianta você dar um casaco para alguém se esquentar se você não dá atenção ao seu filho? Se você não tem tempo para dar atenção aos seus avós ou aos seus pais que tanto fizeram por você. De nada adianta você doar material achando que por isso está tirando um peso das costas e que assim pode falar “Ah eu pratico caridade, eu sou uma pessoa boa”.
A caridade é um processo que vem de dentro pra fora e está presente nas atitudes mais simples, ela está presente em um sorriso, numa palavra de conforto, em um minuto de atenção, em uma gentileza a um estranho ou até em só ouvir as pessoas próximas a você, ou quem sabe pedir desculpas por algum erro.
Se as pessoas soubessem a diferença que tem entre doar um brinquedo a um orfanato e ir ao orfanato para brincar com as crianças durante um dia, com certeza pensariam duas vezes antes de só doar. Quantas vezes perdemos um dia inteiro não fazendo nada por preguiça ou pelo menos não fazendo nada que acrescente algo a nós. Gastar um dia “inútil” como esse visitando seu pai que há tanto tempo não vê, seja por falta de tempo ou até por falta de motivação, as vezes pode ser muito difícil demonstrar os carinhos a nossos pais, curiosamente é mais fácil demonstrar à um amigo, namorada, esposa do que demonstrar o carinho e afeto que temos por nossos pais.
Mas também não estou aqui para dizer o que cada um deve fazer, na verdade o real motivo desse texto é tentar fixar a idéia de que caridade não é só material e que a caridade espiritual é muito mais simples e fácil de botar em prática todo dia. Todos os dias temos inúmeras chances de praticar a caridade e quantas vezes as fazemos? Deveríamos refletir e pensar, no que eu posso fazer a diferença todo dia? Será que uma palavra amena faria alguma diferença para uma pessoa? Um pouco de educação e gentileza? Compaixão melhoraria algo a minha volta?
Se todas as pessoas do mundo se fizessem essas perguntas todos os dias, acredito que seria muito mais gostoso viver aqui.

31/08/2011
Gustavo Santiago

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

À defesa da Umbanda.


Certo dia conversando com um amigo e ele começou a questionar o porquê de eu ser umbandista e pediu para lhe explicar o que é a Umbanda.
Pergunta simples e muito complexa, a Umbanda é uma religião que acredita na reencarnação, na evolução do ser humano, tanto encarnada quanto desencarnada, nos Orixás, que são as forças da natureza, na comunicação entre os espíritos desencarnados e nós que estamos encarnados, nossa bandeira é prestar a caridade, que Jesus tanto pregou, e antes de tudo acreditamos em Deus, um único criador, bom e justo, só o chamamos por outro nome, de Zambi.

Meu amigo então logo falou "Reencarnação? Tu acredita mesmo nisso?". A resposta
é muito simples, sim é claro que eu acredito! Ou você prefere acreditar que Deus é extremamente injusto? Por que ele deu a fulano uma família rica enquanto a outro ele deu uma família extremamente pobre? Uma família que educa seu filho ensinando ética e moral enquanto outro que não teve o privilégio de ter uma família que se preocupasse com isso. Não seria injusto da parte de Deus dar uma formação educacional e cultural totalmente diferente para duas pessoas e esperar o mesmo deles? Vamos então supor que exista o céu e o inferno e apenas uma vida para se viver, a pessoa que fosse boa e justa ia pro céu, enquanto a que fosse ruim ia pro inferno. Mas não é muito mais fácil você ser uma pessoa boa e justa quando se tem uma vida confortável ou quando somos ensinados a sermos bons e justos desde cedo? Deus estaria sendo injusto e além do mais Deus que nos criou por amor, que é pura bondade não nos daria nem uma segunda chance? Quando até os pais que aqui vivem na terra cheios de imperfeições dão 2, 3, 4, 5 e até mais chances aos seus filhos, mesmo quando estes estão totalmente errados.
Sim eu acredito em reencarnação pois acredito que a cada encarnação temos a chance de melhorar  um defeito de cada vez até sermos puros o suficientes para não precisarmos mais encarnar e podermos ajudar uns aos outros de outras formas.

Tá beleza, mas e esse negócio de evolução do ser humano?

Aí já é mais simples, acreditamos que se você for uma pessoa de princípios, uma pessoa boa que não deseje mal a ninguém, que tenha ética e moral, que você vai evoluir aos poucos até se tornar em um espírito de luz. Claro que essa evolução demora centenas ou até milhares de encarnações e mais evolução desencarnada, mas vai a cada degrau chegando mais perto de Deus.

Beleza você explicou a evolução encarnada certo? E a desencarnada? Como que é?

Bom, nós Umbandistas acreditamos que o mundo material em que vivemos nosso dia a dia é extremamente influenciado pelo mundo espiritual, ou seja, os espíritos atuam sobre nós mesmo nos momentos em que nem imaginamos, e como há na terra homens maus e homens bons, existem espíritos ruins e espíritos bons e tanto uns quanto os outros atuam sobre nós.
Quando dizemos “prestar caridade” na Umbanda, estamos falando principalmente (mas não só) sobre diminuir ou quem sabe erradicar a ação dos espíritos ruins contra nós aqui encarnados, esses espíritos negaram a reencarnação e vagam no plano espiritual causando mal a todos achando que causando o mal, vão se vingar de tudo e de todos, esses espíritos também são ajudados no terreiro.
Voltando à evolução desencarnada, quando nós não precisamos mais encarnar, quando já somos evoluídos o bastante para continuar nossa caminhada sem precisar vir a terra, aí vamos ser entidade de alguém, as entidades que recebemos lá no terreiro, que vêm aqui pra ensinar e nos guiar.

Mas ué, os Orixás não são forças da natureza, vocês incorporam as forças da natureza?

Calma, vamos lá, eu sou filho de Xangô, que é meu chefe de cabeça e ele incorpora em mim.
Esse Xangô é um espírito evoluído que vibra na linha do Orixá Maior Xangô, o Orixá Maior não incorpora em ninguém e esse sim, é a força da natureza, que no caso de Xangô, vem das pedreiras. O "meu" Xangô me acompanha para me proteger, orientar e guiar, como um pai aqui na terra.

Ok, mas e eu? Sou filho de quem? Quem escolhe isso?

Isso não cabe a nós, isso já foi designado quando nascemos, Deus nos envia a nossa Banda, a Banda é o conjunto de todos os espíritos que nos acompanham. A Banda influencia até nossas características. Adquirimos características dos espíritos que cuidam de nós, isso mostra quão grande é a influência que recebemos do mundo espiritual. Ninguém diz quem é seu chefe de cabeça e nós não podemos afirmar isso com certeza, nós descobrimos quando a própria entidade incorporada diz e confirma quem ela é. 

Mas como funciona isso? Como é a incorporação?

Essa é a parte em que falamos da comunicação entre os espíritos e nós, da mediunidade.
Existem pessoas que já nascem com a mediunidade aflorada, essas podem ver vultos ou os próprios espíritos, podem escutar os espíritos podem até incorporar. Esses espíritos evoluídos dos quais estávamos falando, para vir aqui nos orientar e ensinar, eles precisam de um meio de falar conosco, precisam de no mínimo a voz, por isso a incorporação ao incorporarmos uma entidade, estamos cedendo nosso corpo para que essa possa trabalhar e ajudar as pessoas que precisam de ajuda aqui na terra.

Mas todo mundo é médium? É fácil assim incorporar uma entidade?

Sim, todo mundo é médium e todo mundo pode desenvolver a mediunidade, porém, na Umbanda não acreditamos que um espírito evoluído, que venha aqui na terra para praticar o bem possa incorporar em uma pessoa ruim. Acreditamos que para merecer uma incorporação de uma entidade de luz, precisamos nos transformar de dentro pra fora, melhorando sempre para que possamos merecer a incorporação, então não, não é tão fácil assim.

Realmente, do jeito que você falou a Umbanda não parece ser a coisa ruim que ouvimos falar
por aí.

De fato não, é um pecado uma religião que só prega a caridade, que visa a evolução do homem em um homem de bem, ser taxada como algo de ruim. O que acontece é que a Umbanda assim como a Capoeira que também sofreu muito preconceito tempos atrás, mas que vem diminuindo bastante de uns tempos pra cá, é uma herança dos negros africanos que vieram para o Brasil como escravos.
Infelizmente as pessoas da época tinham preconceito com tudo que vieram deles e como a Capoeira foi bastante difundida e as pessoas conheceram rapidamente o que ela é, veio perdendo o preconceito, mas já as pessoas que falam mal da Umbanda, certamente nunca foram a um terreiro sério, nunca sentaram para conversar com um Preto Velho, nunca sentiram a paz e a bondade que emanam dessas entidades, as palavras de conforto que eles têm sempre na ponta da língua. Chamar essa entidades de demônio ou capeta, como fizeram com Exu, é um pecado. O demônio que dizem por aí é o próprio ser humano, as entidades que não encarnam mais evoluíram e exatamente por isso não vão praticar nunca o mal, já nós que estamos encarnados e cheios de defeitos, nós sim podemos cometer maldades e claro, os espíritos que falamos antes que fazem o mal. Mas a Umbanda está aqui para acabar com isso, para ensinar a nós a bondade, para nos ajudar a evoluir, tornar esse mundo um mundo melhor através da evolução individual de cada um.
Eu duvido honestamente que uma pessoa que vá à um terreiro sério conversar com um Preto Velho ou uma entidade de luz, consiga falar mal da Umbanda.
Quando as pessoas começarem a aceitar que Deus pode ser chamado por vários nomes, o mundo vai se tornar sem sombra de dúvidas um lugar um pouquinho melhor. Afinal apenas 33% da população mundial é cristã e se Deus fosse só "Deus" 67% do mundo estaria errado.

24/08/2011
Gustavo Santiago